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Panidrom, uma peça itinerante, colaborativa e fascinante: à procura de financiamento coletivo

por Marina Matos

 

 

  UFRJ, Campus da Praia Vermelha. Chego 1 hora antes por medo de me atrasar. Última apresentação do ano, não posso correr o risco de perder o início de Panidrom, peça dirigida porJoão Pedro Orban, que está em busca de financiamento coletivo através do Benfeitoria para continuar sua história em outros percursos. Criada num processo colaborativo que reuniu cerca de 30 artistas (estudantes ou não), não tinha ideia de qual era o formato ou história da peça, mas cheguei para ver sua última apresentação de 2014.

 

  Uns 20 minutos antes do início, me oferecem uma tela do que imagino ser uma caixa de ovos: “para não se sujar”. Agradeço e aceito. Com algum atraso e mais de 100 (200 é mais provável) espectadores curiosos e ansiosos por Panidrom, um personagem cigano, circense, El Gran Perez Perez, nos avisa no megafone que Sras e Srs devemos nos reunir e prestar atenção. E todos prestamos bastante atenção na introdução misteriosa e enérgica da experiência pela qual passaríamos.

  Ele diz algo sobre Manguinhos já estar debaixo d’água e anuncia que precisamos correr. E por isso não devemos demorar, e que personagens diferentes nos conduziriam em grupos diferentes simultaneamente ao caos, e que não devemos hesitar: “um grupo com o Peixe”. O grupo que segue com o Peixe sai correndo, o Peixe está escapando ou os ensinando a escapar. Me surpreendo e me excito ao ver as cerca de vinte pessoas correndo atrás do delírio de um lunático. Quero correr também.

 

  “Um grupo aqui, rápido Sras e Srs, rápido, uma grávida não pode esperar”. Mal escolho seguir com esse grupo e já corro como há muito não corria. E não à toa. Marenka, mal humorada, mendiga, grávida, carregando seus sacos de lixo, com o corpo maltratado pela sujeira e fome, grita “corre rápido porra”, “vocês não ouviram que é pra correr rápido, caralho?”. Sua força nos impulsiona. Aonde chegaríamos? Aonde estão as pessoas que não vieram por esse caminho?

 

  Chegamos a algum lugar estreito, com uma Senhora deitada no chão e Marenka angustiada, remexendo nos seus sacos. A Senhora começa a falar do trem, que lá tava escrito “DG, saudade eterna”, e algo sobre Jesus Cristo, “Cabral vai tomar no cu”, despejos, vida loka, eu te amo, Douglas, tudo nosso, Jesus… Não lembro ao certo a ordem, sua fala era desconexa, perdida, buscante. Lembro que enquanto a ouvia, pensei na crueldade. Pensei no mundo, em Junho 2013, nos despejos no Rio de Janeiro, nos crackudos da Av Brasil e na estação de Triagem, na Pavuna (onde morava) e nos ainda desabrigados do Morro do Bumba.

  Meus ombros pesaram. Entendi que Panidrom não era um espetáculo. Panidrom era a própria crueldade: a realidade. Não. Panidrom era uma peça que estava ali não para entreter ou agradar, mas para revelar.

 

  A peça nos revelas as histórias de 10 personagens místicos, ciganos, maltrapilhos, lunáticos, vindos de lugar nenhum… A prostituta, o farsante, as crianças de rua, a mendiga grávida, a catadora, o sábio planejador, o delirante que conversa com imagens religiosas, o delirante agressivo, o líder delirante.

 

  A experiência da peça nos faz andar mais de 1 km dentro do campus da UFRJ e em algum momento a realidade cruel transmitida com toda a sensibilidade, cuidado e talento por uma peça ideologicamente itinerante, livre e questionadora, nos confronta com sua antítese: o shopping Rio Sul, com suas luzes acesas, academias, restaurantes, consumos e desperdícios.

 

  Quando a peça terminou eu já estava paralisada. Não imaginava que fosse “espectar” a dor do mundo. Estava inquieta, transtornada pelo modo fascinante como mais de 30 pessoas conseguiram transformar a vida em peça, a peça em obra prima. O termo parece exagerado, mas foi assim que me senti e quero parabenizar a todos os envolvidos pelo trabalho.

 

  Espero que Panidrom retorne e consiga ganhar as ruas, campos e encruzilhadas do Brasil. Mais informações, imagens e comentários sobre a peça podem ser vistos na páginawww.facebook.com/panidrom.

 

  E para que Panidrom continue viva: apoiem de forma simples, rápida, a partir de R$10,00 ou mais, a benfeitoria da peça http://benfeitoria.com/panidrom. Ou também ajudem compartilhando e divulgando o projeto. Como brindes tem cartazes, DVD da peça, oficina de experimentação em teatro, livro e até quadro!

 

  (Mas garanto que a maior recompensa é poder ajudar esse projeto a ganhar vida e conseguir assisti-lo)

 

Marina Matos

pesquisadora de arte, cultura, filosofia, feminismo e, sei lá, vida.

 

Crítica retirada do site: http://ambrosia.virgula.uol.com.br/procura-de-panidrom-uma-peca-itinerante-colaborativa-e-fascinante-com-ajuda-de-financiamento-coletivo/

 

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